20 de julho de 2014

Bofetada educadíssima do Brasil ao mundo - Declarações de Chico Buarque, Ministro da Educação do Brasil

Durante um debate numa universidade dos Estados Unidos, perguntaram ao ex-governador do Distrito Federal e atual Ministro da Educação do Brasil, Cristóvão Chico Buarque, o que pensava sobre a internacionalização da Amazónia. Um estado-unidense nas Nações Unidas introduziu a sua pergunta, dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.

Esta foi a resposta do Sr. Cristóvão Buarque:
“Realmente, como brasileiro, só falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que os nossos governos não cuidem devidamente desse património, ele é nosso.

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o demais que é de suma importância para a humanidade.

Sim, a Amazónia, desde uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro.

O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade como a Amazónia é para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas crêem ter o direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Sim a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, não se deveria queimar somente pela vontade de um dono ou de um país. Queimar a Amazónia é tão grave como o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais.

Não podemos permitir que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na voluptuosidade da especulação.

Também, antes da Amazónia, gostaria de ver a internacionalização dos grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer só a França. Cada museu do mundo é o guardião das peças mais belas produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar que esse património cultural, como é o património natural amazónico, seja manipulado e destruído pelo prazer de um só proprietário ou de um país.

Não faz muito tempo, um milionário japonês decidiu enterrar, junto com ele, um quadro de um grande mestre. Esse quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão a realizar o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em participar, devido a situações desagradáveis surgidas na fronteira dos EUA. Por isso, creio que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade.
Da mesma forma que Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília… cada cidade, com a sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Sim os EUA querem internacionalizar a Amazónia, para não correr o risco da deixar nas mãos dos brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares. Basta pensar que eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior que as lamentáveis queimadas realizadas nos bosques do Brasil.

Nos seus discursos, os atuais candidatos á presidência dos Estados Unidos defenderam a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da divida.

Comecemos usando essa divida para garantir que cada criança do mundo tenha a possibilidade de comer e de ir á escola. Internacionalizemos as crianças, tratando-as a todas elas sem importar o país aonde nasceram, como património que merece os cuidados do mundo inteiro. Muito mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como Património da Humanidade, não permitirão que trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo; mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia, seja nossa. Somente nossa!”

NOTA: Este artigo foi publicado no New York Times, Washington Post, USA Today e nos jornais de maior tirada da Europa e Japão.

Tradução: Divulga-se

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